Balenciaga Primavera Verão 2024. Resenha de Eleonora de Gray, Editora-Chefe da RUNWAY REVISTA. Cortesia da foto: Balenciaga.
A coleção Primavera Verão 2024 da Balenciaga parece ser mais um afastamento da moda convencional. Parece abraçar elementos de subversão, incorporando diferentes influências e escolhas não convencionais. A moda é muitas vezes um reflexo de mudanças culturais e sociais, e designers como Demna Gvasalia são conhecidos pela sua capacidade de provocar controvérsia.
A coleção Primavera Verão 2024 da Balenciaga, sob a direção de Demna Gvasalia, mergulhou mais fundo em um reino do que só pode ser descrito como puro absurdo e provocação. A noção de “conceito” neste contexto parece ser uma desculpa velada para o que só pode ser denominado como uma deformação da moda e uma descida à perversidade.
O que realmente confunde a mente é a decisão de recrutar críticos e jornalistas conhecidos para desfilar runway. Cathy Horyn, respeitada crítica de moda e jornalista do The New York Times, Diane Pernet, blogueira americana conhecida por sua estética negra espanhola, e até a própria mãe de Demna Gvasalia estavam entre as “modelos” inesperadas. A inclusão de Amanda Lepore, uma artista performática, e de Loïk Gomez, marido de Demna, conhecido como BFRND, um artista musical tecno-sinfônico, adiciona uma camada de aleatoriedade desconcertante a este espetáculo.
E depois há a inquietante escolha de encerrar o desfile com uma noiva Balenciaga, que parecia uma “nova noiva” de Marilyn Manson. Manson, cujas ações inspiraram assassinatos nos Estados Unidos, não deveria ser glamorizado em nenhum contexto da moda. E não é de admirar que Loïk Gomez, marido de Demna, conhecido como BFRND, seja exatamente igual, mesmo na vida real.
Os acessórios desta coleção são igualmente desconcertantes, com bolsas Balenciaga adornadas com centenas de chaves diferentes, simbolizando o sigilo do que só pode ser considerado segredos horríveis.
A maior parte da coleção parece abraçar um “estilo Rap”, com calças feitas de uma combinação incongruente de jeans e cáqui. Sacolas plásticas de pão estampadas com o logotipo da Balenciaga são usadas como uma alternativa às opções ecológicas, destacando ainda mais o desrespeito da coleção pelas sensibilidades sociais e ambientais. Sapatilhas de balé e roupões de banho completam essa mistura eclética e, francamente, absurda.
Para completar, os óculos desta coleção são comparados aos do Batman, acrescentando um elemento de absurdo cômico que parece deslocado. O convite Balenciaga Primavera Verão 2024 deixou muito a desejar. Embora o conceito de um livro sobre alfaiataria francesa parecesse promissor, faltava-lhe a profundidade e a inovação que se esperaria. Além disso, o uso de adereços de passaporte do país “Balenciaga” e bilhetes de trem de Paris Nord durante o runway o show parecia forçado e enigmático. Mas para quê?
Em suas entrevistas ao media Demna disse:
“O que a moda faz conosco? Porque para mim tenho que ser honesto, não me importo muito com luxo, ou com toda a ideia disso. Porque não quero obrigar as pessoas... a dar-lhes a proposta de que são ricas, ou bem-sucedidas, ou poderosas. Minha moda funciona de baixo para cima e não de cima para baixo. O que eu acho que é uma situação mundial muito antiga. E eu queria questionar isso. Qual é a identidade, como a moda a cria? Porque eu sofro com isso todos os dias. Porque eu me visto assim, e andar assim em Paris não é tipo… você sabe… você se sente insultado, você fica com “você é um esquisito”. E toda a minha vida eu sou isso. E neste verão, Loic e eu tivemos uma experiência horrível no sul da França, onde as pessoas literalmente escolheram trocar de mesa em um restaurante porque não queriam se sentar ao nosso lado. Porque parecemos assustadores para eles. E então no dia seguinte fomos comprar algumas roupas parecidas com eles para tentar nos misturar… Eu já mostrei para algumas pessoas, mas…
E como é ser esse tipo de Demna que o mundo pode tolerar… Era nojento. E me confirmou que a única maneira que quero ser e quero que meu trabalho seja é leal a mim mesmo e não tentando ser alguém ou outra coisa. Porque eu nunca vou me encaixar. Quero dizer, você quer me ver assim? Foi quase um experimento antropológico que eu queria fazer para mostrar o poder das roupas.”
A coleção Primavera Verão 2024 da Balenciaga parece se deleitar com polêmica só por fazer, com uma mistura de influências e escolhas que desafiam a compreensão. É uma coleção que levanta sérias questões sobre a direção da indústria da moda e a sua responsabilidade em promover um discurso cultural positivo e significativo.
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